'Indígenas da Shopee' e a desinformação climática
Você sabia que uma deputada de SP, recém-cassada por publicar desinformação nas redes sociais, lidera menções contra o maior movimento indígena no Brasil?
Em abril, grupos ligados ao agronegócio e à extrema direita intensificaram os ataques às pautas indígenas, tentando deslegitimar o movimento ao associá-lo a agendas “esquerdistas” e teorias conspiratórias como o “globalismo”. É o que mostra o monitoramento que realizamos com a unidade de pesquisa da Climate Action Against Disinformation (CAAD).
O principal motivo desses ataques foi a realização do Acampamento Terra Livre — a maior mobilização anual de indígenas do país — que levou mais de 6 mil indígenas de 150 povos, de todas as regiões do Brasil, a se reunirem em Brasília.
Como de costume, parte da estratégia dos desinformadores foi negar a própria existência dos povos indígenas, recorrendo a termos racistas como “índio fake”, “índio da cidade” e “indígena da Shopee” — uma referência à plataforma de comércio eletrônico, como insinuação de que indígenas brasileiros seriam falsificados.
QUEM
Carla Zambelli, deputada federal pelo PL-SP que acabou de ter o mandato cassado por “publicar desinformação eleitoral em suas redes sociais” (G1)
SEGUIDORES
X/Twitter (2,6 milhões) e Instagram (3,7 milhões)
PUBLICAÇÃO
10 de abril de 2025
VIEWS
1,1 milhão
Os posts da deputada federal Carla Zambelli, recém-cassada por publicar desinformação sobre as eleições e condenada a 10 anos de prisão por falsidade ideológica, foram campeões de alcance sobre o tema no segundo país onde mais pessoas morrem por defenderem a vida e a floresta. E seus ataques tiveram muito alcance.
Os amigos pesquisadores da Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getúlio Vargas produziram a pedido da Oii (a gente é chique mesmo, viu?!) um levantamento sobre o que os parlamentares brasileiros publicaram sobre o ATL. Eles identificaram posts de 83 parlamentares, com um total de 450 mil interações. Mas quase todo o engajamento se concentra em apenas dois perfis: da deputada federal Célia Xakriabá (PSOL), mulher indígena que ajudou a promover o ATL, e de Carla Zambelli, a campeã de views e de engajamento entre os que atacaram os indígenas e o evento.
Em apenas um vídeo no Instagram, com a expressão “indígenas da Shopee” nas imagens e na legenda, Zambelli teve 1,1 milhão de acessos, 68 mil curtidas e quase 10 mil comentários.
A Oii esteve no ATL para jogar luz a algo que a gente não consegue ver de sopetão. Como as mentiras impactam:
políticas públicas e direitos garantidos por protocolos internacionais, como a demarcação de terras;
lideranças, suas famílias e suas comunidades, que se tornam alvos em uma disputa de poder desigual;
e, por que não, como nós todos percebemos e entendemos o movimento indígena, enfraquecendo apoio e alianças;
Olha só:
Como jogar luz às mentiras
Thais por aqui ;)
Escrevo esta mensagem para vocês direto da minha jornada na Eisenhower Fellowship. Nos últimos dois meses, encontrei mais de uma centena de pessoas para pensarmos juntos em soluções para a cadeia produtiva de mentiras contra o clima, que há anos é nosso assunto dentro do nosso programa:
Os estudos mais recentes sobre como enfrentar a desinformação e o discurso de ódio mostram resultados limitados porque um ingrediente essencial está faltando na fórmula. Desde os primórdios desse campo, na década de 1940, a ciência social — e a emoção — foram deixadas de fora da equação. A vida real também foi excluída: a dinâmica social — e a desigualdade — levam as pessoas a reações violentas.
Agora precisamos ter a coragem de inventar o que não existe — ainda.
Por isso as pessoas, mais uma vez, estão no centro do nosso próximo projeto, um HUB para conversar com as pessoas, no mundo off-line e on-line, sobre clima e desinformação, dentro e fora do Brasil.
Compartilho insights com vocês:
Ninguém consegue pensar soluções para o que não consegue ver. Como podemos jogar ainda mais luz?
Como compartilhar informação verídica que muita gente acha que é mentira?
Palavras estão ganhando novos significados. Desinformação, para alguns, significa censura. Isso é mudança de cultura. O que mais estamos esperando para agir?
Nós precisamos imaginar um novo futuro. Agora.
FPA: Fazendo Propaganda do Agro (só que não)
Você viu? Saiu no ano passado: a Frente Parlamentar Agropecuária pagou para impulsionar anúncios passando pano para o impacto do agro no meio ambiente e promovendo desinformação climática, mostrou o NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os pesquisadores analisaram 157 anúncios da FPA no Facebook e no Instagram em 2023 e descobriram que praticamente metade deles tinha desinformação.
E não tem mentira só na internet não, tá?
Os amigos do QuotaClimat descobriram que a TV e o rádio da França produzem em média 10 mentiras climáticas por semana. E as principais vítimas são as energias renováveis e os carros elétricos. A boa notícia? Eles estão conosco, e já investigam a mesma coisa aqui no Brasil! Novidades em breve. ;)
Incrível!!!